quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ela ainda sente...

 
  E Ela se lembrou ao abrir os olhos naquela manhã, de que a pouco tempo atrás vivia em um mundo imaginado, criado, e adaptado para seus sonhos. 
  Ela sentia o cheiro de um perfume que não mais pairava no ar, mas que em suas lembranças estava forte...
  E podia sentir a presença que esteve ali por tanto tempo. 
  Ela se levantou passou os olhos pelo quarto, grande o suficiente para acomodar a poltrona da qual tantas vezes viu uma silhueta se levantar na escuridão da madrugada. 
  Vestindo um macacão de trabalho se dirigiu a porta que dava acesso ao imenso corredor cheio de portas, e levava direto para a escada, desceu silenciosamente e enquanto observava a sala de longe, viu os fantasmas dos anos que se foram, rindo sentados no sofá e brincando com copos no ar.
  Já na cozinha sem vontade alguma de se alimentar Ela encheu uma xícara de café puro agarrou alguns livros que deixará sobre a bancada na noite anterior e se dirigiu a uma outra escada que levava a seu escritório, ainda lembrava dos motivos pelos quais transferiu todo seu trabalho para o subterrâneo de sua casa.
  Uma mesa lotada de gráficos, plantas e cálculos  um monte de equipamentos  desligados, outros tantos encaixotados e um corredor de arquivos, que só perdia em tamanho para a biblioteca da casa, onde á um bom tempo Ela preferia não entrar.
  Estava tudo como foi deixado.
  Depois de algumas horas de trabalho, sem interrupção alguma, seus pensamentos e devaneios a atrapalharam. Um sentimento estranho tomava conta de seu coração. Por muitos anos Ela fez questão de deixar seu coração fora de sua vida, mas por algum motivo, naquela época em que tudo teve inicio ela foi tomada por um sentimento que fez os muros ao redor daquele órgão desmoronassem e ele voltasse a pulsar. 
  Durante algum tempo tudo esteve bem, as coisas estavam em seu lugar, e aconteciam rápido de mais para serem avaliadas, em meio a beijos, sorrisos, abraços, lágrimas surgiam volta e meia, e algumas vezes cicatrizes lhe foram impostas, nem todas as lágrimas foram derramadas quando tudo esteve em crise, e as feridas?
  Essas foram mal curadas, deixando marcas visíveis, a qualquer um que tentasse se aproximar, mesmo que para lhe confortar. Aquele muro antes destruído, se erguia dia após dia, e agora seu coração sentia a necessidade de mudar de rumo.
  Naquela tarde, depois de viajar em pensamentos, e se lembrar das loucuras que fez, da coragem que tomou conta de seu ser, das verdades que omitiu e das mentiras que acreditou, ela subiu as escadas e decidiu sentar no jardim, em uma espreguiçadeira ao lado da piscina, olhando para o céu as nuvens brancas brincavam com o vento, na imensidão azul, Ela já havia sonhado muitas vezes, estivera no céu em aviões outras tantas, mas naquele momento seu desejo era sentir o vento diretamente em seus cabelos e lá do alto ver tudo tão pequeno quanto parecesse. 
  Fechou seus olhos por um minuto lembrando de algo que nem mesmo concluiu, e ao se voltar para casa amarela em que vivia, sua primeira visão foi da sacada, uma lágrima rolou. 
  A solidão antes tão admirada agora lhe incomodava, lhe trazia lembranças, lhe fazia sofrer. A tarde ainda estava no meio, algum tempo atrás, organizaria uma festa, visitaria alguns amigos, encontraria um motivo, para sair e fazer compras, talvez embarcar em uma nova aventura.  Mas não lhe agradava agora a ideia de abandonar seu refugiu ainda que ali suas lembranças fossem mais fortes.
  Levantou-se, admirou a vista do seu jardim, tão meticulosamente calculado, tão combinado com todos os sonhos que tiveram juntos um dia. Um ambiente perfeito para ver as tardes se tornando noite, ao lado de alguém especial, mas já não havia ninguém na casa.
  Ela devia ter tomado decisões mais duras alguns anos antes, para que nada disso estivesse acontecendo agora, mas para que buscar os erros no passado se nada iria mudar agora.
  Entrando pela porta da cozinha, ela novamente passou pela sala e ao fundo avistava a porta da biblioteca trancada, seus impulsos pareciam empurrá-la até lá, mas seu coração agora envolto ao novo muro, já não exercia mais tanto efeito sobre seus pensamentos, que sensatos lhe fizeram ir para o quarto, no caminho no imenso corredor, uma porta entreaberta lhe chamou atenção, ao abri-lá totalmente mais uma vez seus olhos encheram de lágrimas, uma janela ao fundo com as cortinas abertas deixava a luz penetrar no quarto com  apenas um bercinho vazio e um móbile pendurado se via empoeirado. Alguns brinquedos em uma prateleira, e fotos em outra, em passos vagarosos Ela passou da porta para a beirada do berço, olhando fixo para o colchão vazio, e em seguida para a janela iluminada, as lágrimas escorreram, Ela precisava sair dali, mas antes que isso fosse possível se pegou admirando os sorrisos nas fotos da prateleira a sua direita. Deixando que suas mãos tremulas tocasse por um segundo os porta retratos, que empurrados bateram na parede quebrando o silêncio e tirando-a do transe. Saindo do quarto aflita Ela acaba batendo a porta e o estrondo ecoa no vazio da casa,  fazendo com que a dor que sentia naquele instante aumentasse.
  Em seu quarto ela corre para o banheiro e tirando o macacão que estava preso somente pela cintura, senta na banheira ligando todas as saídas de água, e deixando o chuveiro escorrer junto com suas lágrimas, Ela ainda sente...



By:(P.)

PS: Talvez continue! 

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